A boa
dose de ironia colocada no título deste post
mostra a fragilidade da nossa suposta democracia racial. Para fazer jus à
lógica do ditado popular, a sequência deste artigo deveria então reportar exemplos
negativos. O texto, porém, frustrará as expectativas. Felizmente. Esta semana a
questão racial ecoou nos meios de comunicação por razões diversas, e sem
qualquer correlação entre si. O que tem de relativamente novo (e digno de registro) neste debate da
questão racial é o fato de todas notícias serem positivas.
Vamos
começar pela menos importante, contrariando as regras do bom jornalismo que
ensina a publicar a informação mais importante o lead. O comércio brasileiro de
uns três anos para cá começou a importar mais um modismo tipicamente
norte-americano. Refiro-me à Black Friday
(sexta-feira negra), promoção onde os já endividados sobrinhos do Tio Sam
dormem na porta de grandes magazines para aproveitar os mega-descontos e se
enforcarem um pouquinho mais na hora de pagar a fatura do cartão de crédito.
A
galera brasileira que adora uma moda estrangeira não perdeu a oportunidade de
copiar o bagulho. O que não sabem muito bem é a tradução literal do termo. “Se
os preços são tão bons, por que eles chamam de back?”, indagou uma consumidora
desavisada.
Lá nos
states, quando o assunto é grana, o black significa ter o saldo da conta
corrente positivo – o correspondente internacional ao nosso azul. Daí o nome
da promoção, que não faz muito sentido por aqui porque a associação a
expressões como preto e negro costuma nos remeter a termos negativos.
Passando
do noticiário econômico para as páginas de cultura, a negritude continuou a
estampar as manchetes. Desta feita dando destaque ao festival black2black, realizado no Rio de
Janeiro. No evento, artistas do Brasil e da África se juntam para exaltar a
negritude e falar da questão racial no mundo.
A primeira
edição ocorreu em 2009 e de lá para cá o evento vem ganhando prestígio. Este ano,
representantes de oito países africanos confirmaram presença no festival, que tem
como marca a crítica social. Por isso, além da música, o black2black promove uma série de debates.
Embora
este seja o queridinho da mídia no momento, é cada vez mais comum
encontrar eventos culturais com propostas semelhantes. É torcer para que os idealizadores não se
deixem seduzir pelo canto da sereia – ou melhor, dos patrocinadores – e transformem tudo em apenas mais um grande show
business.
O
assunto da semana, no entanto, foi sem dúvida a posse do ministro Joaquim
Barbosa no comando Supremo Tribunal Federal (STF).
A cerimônia cheia de pompa começou a quebrar o protocolo já na lista de
presença. Artistas, autoridades, políticos e militantes dos movimentos sociais foram
prestigiá-lo numa manifestação de apoio e popularidade sem precedentes na Corte.
Tudo lindo
e muito emocionante. Mas, um aspecto
precisa ser sublinhado: Joaquim Barbosa, que chegou ao STF em 2003, não alcançou
a presidência da mais alta
instância do Poder Judiciário brasileiro por
ser negro. Sua ascensão profissional é consequência de sua competência e currículo invejáveis. Quaisquer
referências à cor da pele do ministro sem citação à competência técnica soa
como puro preconceito.
Oriundo
de uma família pobre, Joaquim Barbosa é prova viva de que o melhor caminho para
o país alcançar a tão almejada justiça social é possibilitando educação de
qualidade para todos os cidadãos. Que sirva de lição!