quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A grande imprensa não acompanhou o último capítulo da história de Alcione Araújo

O feriado enforcado do dia 15 de novembro talvez tenha prejudicado o trabalho da imprensa, que não deu a repercussão necessária à morte de um dos nossos grandes intelectuais contemporâneos. Refiro-me a Alcione Araújo. É verdade que a imprensa noticiou o fato (ao menos a escrita), mas muito timidamente.

Tive a privilégio de entrevistá-lo no final de 2000, consequência de um projeto corporativo que traçava cenários para o futuro. Quando soube do seu falecimento, fui buscar o material daquela entrevista para matar minha curiosidade. A distância temporal apagou quase todo o conteúdo da minha memória. Mas, os trechos a seguir mostram que valeu a pena revirar a papelada com cheiro de mofo.

Alcione Araújo morreu na madrugada do dia 15 de novembro, em Belo Horizonte, aos 67. Era mineiro, nascido na cidade de Januária. Na década dos 80, deixou a carreira de professor universitário de filosofia para se tornar um dos dramaturgos mais conhecidos e premiados do país. Realizou dezenas de trabalhos para teatro, televisão e cinema. Na TV, escreveu sucessos como a série Malu mulher, exibida pela Rede Globo, e a telenovela A idade da loba, que foi ao na extinta Rede Manchete.

Naquela oportunidade do nosso bate-papo, ele participou de um debate com duração de pouco mais de uma hora, onde sugeriu: “É preciso que você se liberte da prisão que existe dentro de você. A sua felicidade somente será inteiramente sua quando você decidir. Não ponha a culpa da sua infelicidade nos outros, viva com plenitude.”

Segundo ele, pelo fato de vivermos numa sociedade de consumo, atualmente muitos fatores que afastam as pessoas da felicidade, uma vez que elas desperdiçam a maior parte do tempo desejando coisas de que realmente não necessitam.

Ele também lamentou o fato de que muitas pessoas passam parte de suas vidas representando papéis que não são verdadeiros. “A sociedade de consumo muitas vezes faz com que o indivíduo saia do seu verdadeiro lugar. É importante localizar seus desejos para você saber o que você realmente quer”, afirmou.

Alcione Araújo lembrou que a arte de criar é transformar a fantasia em realidade, mas que o limite dessa brincadeira tem de estar bem definido entre palco e plateia. Segundo o dramaturgo, as pessoas não podem escamotear e representar papéis a vida inteira. “Não podemos trocar de lugar o palco e a plateia de lugar.”

Alcione Araújo garantiu que, para ele, a paz é o sentimento que mais se aproxima da ideia de felicidade e deu uma sugestão: por que, em vez de acumular coisas, não conquistamos pessoas, que podem nos acrescentar muito mais experiência?


O dramaturgo
Para teatro, Alcione escreveu muitas peças com sucesso de público e crítica, entre elas, Vagas para moças de fino trato, A caravana da ilusão, Doce deleite, A Primadona, além do mega-sucesso Muitos anos de vida, que recebeu o Prêmio Molière.

Alcione Araújo também destacou-se no cinema. Ele assina o roteiro de doze filmes, com destaque para Nunca fomos tão felizes, premiado no Festival de Gramado e ganhador do Prêmio Candango, em Brasília; Jorge, um brasileiro, adaptado do livro de Oswaldo França Jr, sob direção de Paulo Thiago, e Policarpo Quaresma.

É autor do romance Nem mesmo todo oceano, publicado em 1998 pela Editora Record. Suas peças de teatro foram distribuídas tematicamente em três antologias publicadas pela Editora Record. A primeira, Simulações de naufrágio, reúne as peças que tratam de relações familiares; em Visões de abismo, as que abordam temas político-sociais; em Metamorfoses do pássaro, os textos sobre arte.

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